Previsão de queda para na economia no próximo trimestre
- Thais Herédia
- 19 de out. de 2016
- 3 min de leitura

Agora são duas as surpresas desagradáveis sobre o processo de recuperação da economia brasileira: varejo e indústria amargam resultados bem negativos, piores do que o esperado pelo mercado e desalentadores para quem contava com alguma estabilidade na atividade econômica até o final do ano. O IBGE divulgou nesta terça-feira (18) as vendas do varejo em agosto, com queda de 0,6% na comparação com julho e perdas de 6,6% no ano.
Há duas semanas soubemos que, na indústria, o tombo foi de 3,8% em agosto. Mesmo quem estava mais pessimista quanto ao ritmo e à intensidade da recuperação da economia que se avizinha não esperava coisa tão ruim assim. As revisões nas estimativas para o segundo semestre estão piorando e levam a uma conclusão: vem aí mais um trimestre de PIB em queda. A economia deve seguir no vermelho entre julho e setembro, assim como aconteceu com os dois trimestres anteriores.
“A gente tem feito revisões para o PIB para o terceiro trimestre. Até há pouco era de queda de 0,2%, mas com os números da indústria e do varejo de agosto, o resultado caminha para um recuo de 0,5%. E o resto do mercado deve seguir o mesmo caminho, revisando as expectativas”.
- Marco Caruso, Banco Pine.
É exatamente isto que está acontecendo. Para os economistas de um dos maiores bancos do país o terceiro trimestre deste ano será bem pior do que se imaginava há alguns meses. No Bradesco, os analistas esperam agora que o período entre julho e setembro tenha contração de 0,8%, ante queda de 0,6% da previsão anterior, e o último trimestre deverá cair 0,2% e não subir 0,2% como pensavam anteriormente. Outros bancos e consultorias têm feito ajustes e não é à toa que as previsões colhidas pelo Banco Central para o relatório Focus vêm piorando nas últimas semanas e mostram que o país deve terminar 2016 com uma recessão de 3,19%. E olha que ainda tem chão para que este número piore um pouco mais, principalmente depois dos dados revelados pelo IBGE.
O maior responsável pelo mau desempenho das atividades ligadas ao consumo no país é o emprego - ou o desemprego. O mercado de trabalho continua se deteriorando e, com o que vimos do novo levantamento sobre o emprego no país preparado pelo IBGE, a quantidade de pessoas sem trabalho, ou que estão trabalhando menos do que gostariam, ou daqueles que nem procuram mais um posto, passa de 22 milhões de pessoas. É uma gigantesca massa de renda e disponibilidade de consumo que desaparece do mercado. Mesmo para quem ainda mantém o emprego a ameaça ronda e a cautela é mandatária. Se já sabemos que o emprego será o último a reagir à recuperação da economia - ainda que ela seja mais tênue - faz sentido recolher os “flaps” e aparar a dose de otimismo.
“De modo geral, os setores mais ligados ao emprego e à renda, ou seja, ligados ao consumo das famílias, vão ser os últimos a melhorar dentro do PIB. O consumo não tem motivos para ter uma recuperação mais rápida porque o emprego vai demorar a melhorar. A recuperação cíclica virá puxada por investimentos, porque as expectativas estão melhorando o os juros vão baixar”, explica o economista do Pine.
Quem mais influenciou a cabeça dos economistas a pensar que o pior já poderia ter ficado para trás e que o segundo semestre seria melhor do que o primeiro, foi a confiança. Ela está em plena recuperação, como mostram todos os indicadores colhidos no mercado. Como o diabo mora nos detalhes, a confiança que cresce é aquela sobre o futuro, para os próximos seis meses. Quando olham para o presente consumidores e empresários sentem a dor da crise sem atenuantes. Parece uma contradição, mas pode acontecer assim mesmo. É como assistir à chuva do alto de um prédio enxergando que as nuvens escuras descarregam tudo agora sobre a sua cabeça, mas o horizonte está mais limpo. Não valendo chamar a Maju Coutinho para nos falar da previsão do tempo, é mais difícil prever quando o aguaceiro vai acabar e que estragos vai deixar.
“A recuperação da economia perde a magnitude, mas não a direção. Tudo agora depende da intensidade com que as coisas vão acontecer a partir daqui, mas a retomada não está abortada. Mas a partir de agora o governo precisa começar a entregar mais coisas. O ajuste fiscal foi aprovado na primeira fase, o Banco Central passa a ter uma confiança maior (para baixar os juros) e o país começa a entrar no ciclo mais virtuoso. Mas tem que haver mais entrega do lado fiscal. Nós tivemos bons sinais com a velocidade da PEC do Gasto (em primeiro turno na Câmara). Mas ainda estamos nas primeiras casas do jogo”, ressalva Marco Caruso.
Nesta quarta-feira o IBGE vai divulgar os dados do setor de serviços. Dá até vontade de fazer como os três macacos orientais: não vejo, não escuto, não falo.
fonte: http://g1.globo.com/economia/blog/thais-heredia/post/vem-ai-mais-um-trimestre-negativo.html
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